quarta-feira, 18 de fevereiro de 2009

Receita de Equipe - Parte 1


Era Dia de Reis. Eu cheguei sem saber muito bem o que estava fazendo ali. A vontade latente de mudanças sempre me fez buscar desafios, e na época eu já acumulava 14 anos de jornalismo e experiência nas áreas de rádio, TV, jornal, internet e agência de notícias. Mas fazer uma revista era algo totalmente novo e diferente, e a idéia de trabalhar em equipe me assustava um pouco.

Os primeiros dias foram turbulentos. Senti que estava invadindo um território blindado, e que não era bem quista naquele ambiente. “Alguém poderia me dizer onde fica o banheiro?” A minha comunicação, resumia-se a um monólogo. Meu índice de rejeição era tão alto, que muitas vezes cheguei a pensar que a única forma de me livrar de tudo aquilo era indo embora. A torcida era grande, e não raras vezes tal sentimento inundou meus pensamentos...

“Ei, é verdade que você vai me demitir?”. Até hoje não sei se aqueles olhos expressavam coragem ou medo, mas a pergunta que não queria calar finalmente transformou-se em algo palpável. Era o início de um relacionamento. Uma questão sem fundamento que abriu precedentes para a recíproca: “Por favor, você pode me ensinar como é que se faz uma revista?” Foi a primeira vez que alguém sorriu para mim ali dentro. Acho que nunca vou me esquecer!

Aos poucos, precisei aprender e ensinar o que significava a palavra liderança. “Como assim? Eu vou precisar me transformar nisso tudo?” Achei que não valeria a pena tanto sacrifício. Justo eu, que chamava a todos por apelidos e que não tinha um comportamento assim tão exemplar? Comecei a estudar a equipe e me dei conta que a Escolinha do Professor Raimundo não nos fazia muita inveja. Cada um de nós vinha de um “planeta” diferente, nunca daria certo todos juntos. Nossos brainstormings pareciam fábricas de loucos! E como eu poderia ser um padrão de comportamento a ser seguido? Melhor contar outra piada, né?

Precisei estudar muito sobre diversidade, e foi então que descobri o quanto uma equipe tão diferente poderia ser tão singular. Parei de buscar pessoas parecidas comigo e comecei a entender como funcionava o universo de cada colega de trabalho. Foi tão difícil! Mas, compensador. Eu diria que foi a abertura de um universo de possibilidades para mim. Meu índice de rejeição não diminuiu o suficiente para me fazer ganhar uma eleição, mas já era o início de uma nova equipe, de um novo comportamento coletivo, agora voltado para a missão do grupo, para os “nossos” resultados.

É claro que nesses anos todos eu me transformei. Mas nunca mudei minha personalidade. Eu sempre falo que o tempo mostra quem são as pessoas. Descobri que respeito se conquista, que autoridade não se impõe, que líder é aquele que as pessoas escolhem, e que o poder estraga os seres humanos. Ainda que tenha aprendido tudo isso na pele de um general que cobra sorrindo ou que grita chorando, as emoções nunca deixaram de fazer parte do meu dia-a-dia. Descobri que num ambiente de grandes pressões só sobrevivem as pessoas que gostam do que fazem e têm afeto pelo próximo. Procurei me preocupar com o clima organizacional e com o prazer, a alegria de se trabalhar num ambiente acolhedor. O “beijo do dia” foi algo que me aproximou de cada um, e me fez entender como gostavam e como cada um reagia a gestos de afeto. As sessões de coaching ajudaram muito também. “O que é isso?”

As Sementes do Saber, ainda que muitas vezes passassem longe do objetivo proposto, eram um momento de união, de troca e de soma. Quantas sextas-feiras.... quanta pipoca. E o quanto isso tudo somava para fazer o nosso dia-a-dia diferente. Era uma quebra de rotina tão necessária quanto o ar que respirávamos, principalmente num ambiente repleto de criativos, com inteligência acima da média.

Ao longo dos anos eu errei muito, mas acertei algumas vezes. E só consegui tudo isso porque trabalhei numa empresa que me permitiu inovar. Passei noites em claro tentando achar a solução para um conflito que envolvia pessoas, ou para problemas de processos que eu não tinha a menor idéia de como resolver. Recebi apoio de pessoas que nunca imaginava que fossem solidárias, fui traída por pessoas nas quais confiava cegamente. Descobri que não existem verdades absolutas e nem seres perfeitos, mas que Jack Welch tem muita razão quando aconselha: pessoas à frente de processos. Este foi o meu grande desafio. Um exercício de disciplina, principalmente quando a equipe cresceu, e quando eu me dei conta, já éramos vinte pessoas. Este era o modelo de liderança que eu queria seguir.

0 comentários:

Postar um comentário